Como iniciar na Advocacia Previdenciária do zero: O Guia Definitivo
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Seja bem-vindo, meu caro colega. Se você está lendo isso, provavelmente já passou pelo calvário da OAB, tem a carteira vermelha na mão ou está prestes a pegá-la, mas se deparou com a grande pergunta que a faculdade não respondeu: “E agora?”. Você olha para o mercado e vê marés de advogados generalistas, mas sente que o Direito Previdenciário tem algo diferente. E você está certo. Essa é a área mais humana, socialmente relevante e, se bem trabalhada, financeiramente gratificante do Direito brasileiro, ao escolher um curso de direito previdenciário

Esqueça aquela ideia de que o advogado previdenciarista é apenas um preenchedor de formulários do INSS. Você será um estrategista de vidas. No entanto, começar do zero assusta. Eu sei porque já estive exatamente onde você está, com um Vade Mecum debaixo do braço e nenhuma ideia de como prospectar o primeiro cliente. A boa notícia é que a barreira de entrada no Previdenciário é intelectual, não financeira. Você não precisa de um escritório de mármore na Avenida Paulista para começar; você precisa de cérebro, empatia e técnica.

Neste guia, vamos ter uma conversa franca, de advogado para advogado. Vou te passar o mapa da mina, sem “juridiquês” desnecessário, mas com a precisão técnica que a nossa profissão exige. Vamos dissecar desde o estudo da lei até a hora que os honorários caem na sua conta. Pegue seu café, ajuste a cadeira e vamos transformar essa sua vontade em uma carreira sólida.

Entendendo o Terreno: O Que Você Precisa Saber Antes de Começar[1][2][3][4][5][6]

A Legislação que é Sua Bíblia e Seu Escudo

Para atuar com segurança, você precisa dominar as fontes do Direito Previdenciário, e não estou falando apenas de ler a Constituição Federal superficialmente. O artigo 194 e seguintes da Constituição são a base, o alicerce filosófico e principiológico que você usará quando a lei infraconstitucional for injusta com seu cliente. Mas o seu dia a dia, a “trincheira” da advocacia, será regida principalmente pela Lei 8.213/91, que trata dos Planos de Benefícios da Previdência Social. Você precisa ler essa lei não como quem lê um romance, mas dissecando cada artigo, entendendo os requisitos de carência, qualidade de segurado e os tipos de benefícios existentes.

Além da lei, existe um universo infralegal que muitos advogados ignoram, e é aí que mora o perigo e a oportunidade. O Decreto 3.048/99, que aprova o Regulamento da Previdência Social, e, principalmente, a Instrução Normativa (IN) do INSS vigente (atualmente a IN 128/2022). A Instrução Normativa é o manual de instruções dos servidores do INSS. Se você quer ganhar no administrativo, precisa falar a língua deles. Muitas vezes, o INSS nega um benefício não porque o cliente não tem direito, mas porque o pedido não seguiu os conformes da IN. Dominar esse texto é o que diferencia o amador do especialista.

Por fim, não podemos esquecer da jurisprudência, especialmente da Turma Nacional de Uniformização (TNU) e dos Tribunais Superiores (STJ e STF). O Direito Previdenciário é extremamente dinâmico; o que era verdade ontem pode não ser hoje devido a um novo Tema Repetitivo julgado. Você deve criar o hábito de acompanhar os informativos semanalmente. Saber que existe uma tese favorável no STJ pode salvar um processo que parecia perdido na via administrativa ou na primeira instância. Essa atualização constante é o seu maior ativo intelectual.

Via Administrativa vs. Via Judicial: Onde Está o Jogo?

Muitos advogados iniciantes, viciados na mentalidade litigante da faculdade, correm direto para o Judiciário ao primeiro sinal de resistência. Esse é um erro crasso na advocacia previdenciária atual. A via administrativa não é apenas uma formalidade ou um requisito de admissibilidade processual (o famoso prévio requerimento); ela é uma oportunidade de ouro para resolver o problema do cliente mais rápido e, muitas vezes, com um resultado financeiro melhor, pois os atrasados contam desde o requerimento administrativo (DER).

Entenda que o servidor do INSS não é seu inimigo, ele é um funcionário público atolado de trabalho e regido por sistemas rígidos. Quando você protocola um processo administrativo bem instruído, organizado, com os documentos certos e uma petição explicativa clara, você facilita a vida do servidor e aumenta exponencialmente suas chances de concessão. Atuar no administrativo exige paciência e técnica para lidar com o sistema “Meu INSS”, mas é a melhor escola para quem está começando. Você aprende a lógica da concessão sem o risco da sucumbência imediata.

Contudo, a via judicial é indispensável quando o INSS tem um entendimento restritivo que contraria a lei ou a jurisprudência. Existem teses que o INSS simplesmente não aceita administrativamente, como certas conversões de tempo especial ou averbações específicas.[7] Nesses casos, o processo judicial é o caminho. O bom previdenciarista é um anfíbio: ele sabe nadar com destreza tanto nas águas turvas do processo administrativo quanto no mar revolto do processo judicial, sabendo exatamente quando migrar de um para o outro estrategicamente.

A Importância Crucial dos Cálculos Previdenciários

Se você escolheu Direito para fugir da matemática, tenho uma péssima notícia: no Previdenciário, quem não calcula, não advoga, apenas aposta. O cálculo é o coração da nossa atuação. Como você vai dizer ao cliente que a aposentadoria dele está errada se você não sabe fazer a Renda Mensal Inicial (RMI)? Como você vai propor um Planejamento Previdenciário se não souber projetar cenários futuros com base nas médias de contribuição e nos índices de correção monetária? O advogado que terceiriza cegamente seus cálculos ou confia apenas no simulador do INSS está fadado a perder dinheiro e prejudicar o cliente.

Você não precisa ser um estatístico formado, mas precisa entender a lógica por trás da conta. Precisa saber o que é salário de contribuição, salário de benefício, coeficiente de cálculo e como a Reforma da Previdência (EC 103/2019) alterou drasticamente essas regras. Antes da reforma, tínhamos o descarte dos 20% menores salários; hoje, a regra geral é a média de 100% de todo o período contributivo desde julho de 1994. Saber manipular essas variáveis, aplicando regras de transição e descartes permitidos, é o que garante o melhor benefício possível.

Investir em um bom software de cálculos é essencial, mas o software é apenas uma ferramenta; quem pilota é você. Se você inserir dados errados (“lixo entra”), o resultado será errado (“lixo sai”). Dedique tempo para estudar a matemática previdenciária. Faça cursos específicos sobre cálculos. Quando você apresenta uma petição inicial acompanhada de uma memória de cálculo detalhada, você ganha o respeito do juiz e do contador judicial, além de demonstrar ao cliente uma competência técnica inquestionável que justifica seus honorários.

Estruturando sua Operação com Baixo Custo

Home Office e Atendimento Digital

A advocacia previdenciária é, talvez, a área mais amigável ao modelo home office e digital. O seu cliente, muitas vezes idoso ou com problemas de saúde, prefere não se deslocar se não for necessário. Além disso, o processo administrativo é 100% eletrônico hoje em dia, e o judicial, no PJe ou E-proc, também. Isso significa que você não precisa gastar suas economias alugando uma sala comercial cara, pagando condomínio e secretária logo no início. Seu escritório pode ser a mesa da sua sala, desde que você tenha organização e disciplina.

O atendimento digital, via WhatsApp ou videochamada, tornou-se padrão. No entanto, é preciso profissionalismo. Tenha um cenário neutro ao fundo, vista-se adequadamente (não precisa de terno em casa, mas uma camisa social passa credibilidade) e tenha uma boa conexão de internet. Para clientes que exigem atendimento presencial e você não tem escritório, utilize salas de coworking ou as salas da OAB da sua cidade. A maioria das subseções oferece espaços excelentes para atendimento a um custo zero ou muito baixo, o que é perfeito para quem está começando do zero.

A grande vantagem do digital é a quebra de fronteiras geográficas. Antigamente, o advogado de bairro atendia o bairro. Hoje, você pode atender um cliente do Amazonas estando no Rio Grande do Sul. O INSS é federal, a lei é federal. Se você domina o sistema digital e sabe fazer um bom atendimento remoto, seu mercado é o Brasil inteiro. Isso escala sua advocacia de uma forma que nossos antecessores jamais sonharam. Use a tecnologia para reduzir custos fixos e aumentar seu alcance.

Softwares e Ferramentas Indispensáveis

Para operar com eficiência, você precisa de um “cinto de utilidades” tecnológico. A primeira ferramenta, como já mencionamos, é um software de cálculos previdenciários robusto. Existem várias opções no mercado (Cálculo Jurídico, Prev, Tramitação Inteligente, etc.). Teste as versões gratuitas ou os períodos de teste e veja com qual interface você se adapta melhor. Não tente fazer cálculos complexos no Excel se você não for um expert em planilhas; o risco de erro na atualização monetária é altíssimo.

Além do cálculo, você precisa de um sistema de gestão do escritório, mesmo que seja apenas você e seu computador. Um CRM (Customer Relationship Management) jurídico ajuda a controlar prazos, andamentos processuais e, fundamentalmente, o relacionamento com o cliente. O cliente previdenciário é ansioso; ele quer saber se o benefício saiu. Ter um sistema que te avisa das movimentações e permite enviar relatórios automáticos ou mensagens rápidas de atualização poupa seu tempo e acalma o cliente.

Não podemos esquecer das ferramentas de acesso à informação.[2] O acesso ao “Meu INSS” (com a senha do cliente) é sua ferramenta de trabalho diária, mas você também deve dominar o SAG (Sistema de Agendamento) para advogados, se houver acordo de cooperação na sua seccional, e o INSS Digital. Tenha também um bom scanner ou um aplicativo de celular que digitalize documentos com alta qualidade (como o CamScanner ou Adobe Scan), pois a legibilidade dos documentos anexados ao processo administrativo é crucial para a análise do servidor.

Parcerias Estratégicas e Networking

Ninguém cresce sozinho na advocacia. Se você está começando no Previdenciário, uma das formas mais inteligentes de alavancar sua carreira é através de parcerias.[7] Procure advogados que atuam em áreas complementares, como Trabalhista e Família.[1] O advogado trabalhista é o maior fornecedor de clientes para o previdenciarista, pois todo processo trabalhista que reconhece vínculo ou verbas salariais impacta diretamente no CNIS e na futura aposentadoria do trabalhador. Faça um acordo de parceria onde você cuida da parte previdenciária dos clientes dele.

Outra frente de parceria importante é com contadores e sindicatos. Contadores lidam diariamente com empresários e autônomos que têm problemas de contribuição ou precisam planejar a aposentadoria. Sindicatos, por sua vez, concentram categorias inteiras de trabalhadores que podem ter direito a aposentadorias especiais ou revisões específicas. Ofereça palestras gratuitas, cafés da manhã informativos ou plantões de dúvidas. Você doa conhecimento e, em troca, ganha autoridade e potenciais clientes.

Também não subestime a parceria com advogados previdenciaristas mais experientes. Se aparecer um caso muito complexo, que você não se sente seguro para assumir sozinho, não dispense o cliente. Procure um colega sênior e proponha uma atuação conjunta (co-patrocínio), dividindo os honorários. Você ganhará menos dinheiro do que se fizesse sozinho, mas ganhará experiência prática, terá um mentor para aquele caso e garantirá que o cliente seja bem atendido. É um aprendizado remunerado.[4][5][7]

O Dia a Dia Prático: Do CNIS ao Benefício Concedido

Decifrando o CNIS: A Pedra Angular

O Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) é o documento mais importante da vida do segurado e da sua advocacia. Ele é o extrato de toda a vida laboral do cidadão. Sua primeira tarefa em qualquer atendimento é obter o CNIS completo e analisá-lo linha por linha. Você vai procurar por indicadores de pendência (os famosos “indicadores” no canto direito, como PEXT, A-EXT-VI, IREM-INDP). Cada sigla dessa é um problema que você precisa resolver para que o tempo conte para a aposentadoria.

Saber ler o CNIS é como um médico lendo um exame de sangue. Você precisa identificar períodos sem data de saída, salários de contribuição abaixo do mínimo, vínculos extemporâneos ou empresas que não repassaram as contribuições. Muitas vezes, o cliente acha que tem 35 anos de contribuição, mas o CNIS só mostra 30 “limpos”. Seu trabalho é fazer o saneamento dessa base de dados, buscando Carteiras de Trabalho (CTPS) antigas, carnês, fichas de registro de empregado e o que mais for necessário para provar o tempo.

A retificação do CNIS pode ser um serviço autônomo, cobrado à parte, ou uma etapa preparatória para o pedido de aposentadoria. Um CNIS “sujo” leva ao indeferimento automático ou a uma concessão com valor errado. Por isso, antes de pedir qualquer benefício, faça o “acerto de vínculos e remunerações”. É um trabalho técnico, de formiguinha, que exige atenção aos detalhes e conhecimento profundo das provas admitidas pelo INSS.

O Processo Administrativo no Meu INSS

O portal “Meu INSS” e o “INSS Digital” (para advogados) são suas plataformas de operação. Você precisa dominar a navegação nesses sistemas.[2][4][6] Saber onde clicar para pedir “Aposentadoria por Tempo de Contribuição”, “Pensão por Morte” ou “Auxílio-Doença”. Mas mais do que clicar, você precisa saber instruir o processo. O sistema permite anexar documentos; a forma como você faz isso muda o jogo. Arquivos organizados, nomeados corretamente, em PDF pesquisável e na ordem cronológica facilitam a análise do robô do INSS e do servidor humano.

Uma dica de ouro é sempre juntar uma petição administrativa inicial. Não confie apenas no formulário padrão do sistema. Faça uma petição simples, mas técnica, narrando os fatos: “O Segurado tem X anos, trabalhou nas empresas A, B e C, totalizando Y tempo de contribuição. Requer a reafirmação da DER para a data em que completar os requisitos, caso necessário”. Isso guia o servidor. Se ele negar sem ler sua petição, você tem um argumento forte para o recurso administrativo ou para o mandado de segurança.

Acompanhe o processo diariamente. O INSS emite “Exigências” (cartas solicitando documentos ou esclarecimentos) com prazos curtos. Perder um prazo de exigência pode significar o arquivamento do pedido e a perda de meses de atrasados. Configure seu e-mail e seu sistema de gestão para te alertar. Responder a uma exigência (o famoso “Cumprimento de Exigência”) de forma rápida e precisa é muitas vezes o passo final para a concessão do benefício.

Enfrentando o Indeferimento

O indeferimento (a negativa do benefício) não é o fim, é apenas o começo da fase contenciosa. Quando o INSS diz “não”, seu olho deve brilhar, porque é aí que sua expertise jurídica entra em cena. A primeira coisa a fazer é baixar o processo administrativo completo (cópia integral) e ler o despacho decisório e a análise técnica. Por que foi negado? Falta de tempo? Falta de qualidade de segurado? Laudo médico negativo?

Com o motivo em mãos, você tem duas opções: Recurso Administrativo para a Junta de Recursos da Previdência Social (JRPS) ou Ação Judicial. A escolha é estratégica. Se a negativa foi por uma questão de fato (ex: o servidor não viu um documento que estava lá), o recurso administrativo costuma ser mais rápido e eficaz. Se a negativa foi por uma questão de direito (ex: o INSS não reconhece aquela atividade como especial, mas a justiça reconhece), vá para o judicial.

Não tenha medo de recorrer. O Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) é um órgão técnico e, muitas vezes, reforma as decisões do INSS. Escreva recursos fundamentados nos Enunciados do CRPS. Se for para o judicial, prepare uma petição inicial robusta, atacando ponto a ponto os motivos do indeferimento administrativo. O “não” do INSS é o combustível do advogado previdenciarista combativo.

Precificação e Sustentabilidade Financeira

Contratos de Honorários e a Cláusula “Ad Exitum”

A cultura do Direito Previdenciário consolidou a cobrança “ad exitum”, ou seja, o advogado só recebe se ganhar, cobrando uma porcentagem sobre o proveito econômico (os atrasados). A tabela da OAB geralmente estipula 30% sobre os valores atrasados mais os primeiros benefícios mensais. Isso é ótimo para atrair clientes que não têm dinheiro para pagar antecipado, mas é um risco para o seu fluxo de caixa inicial, pois você trabalha hoje para receber daqui a 6 meses ou 2 anos.

Seu contrato de honorários deve ser blindado. Ele precisa prever expressamente a porcentagem sobre os atrasados, a cobrança sobre as primeiras parcelas do benefício implantado e, muito importante, a cláusula de destaque de honorários. Isso permite que, no processo judicial, o juiz já separe a sua parte e expeça um RPV ou Precatório no seu nome. Isso evita a inadimplência e o desgaste de ter que cobrar o cliente depois que ele recebe o dinheiro todo.

Além do “ad exitum”, comece a valorizar seu trabalho intelectual imediato. Não tenha medo de cobrar consulta. Se você vai passar uma hora analisando o caso, dando um parecer verbal e tirando dúvidas, isso é trabalho. Pode ser um valor simbólico no início, mas educa o cliente de que seu tempo vale dinheiro. Para serviços administrativos puros, como retificação de CNIS ou averbação de tempo rural, você pode cobrar um valor fixo parcelado, garantindo uma entrada de caixa enquanto os grandes processos não finalizam.

Produtos de Entrada: Planejamento Previdenciário

O Planejamento Previdenciário é a “menina dos olhos” da advocacia moderna. Ele é um parecer jurídico contábil onde você projeta o futuro do cliente. Você analisa o histórico, simula as regras de transição, projeta o valor das contribuições futuras e diz ao cliente: “Se você se aposentar hoje, ganha X. Se contribuir mais 2 anos sobre o teto, ganha Y. O retorno sobre o investimento (ROI) é tal”.

Esse é um produto que você cobra antecipado (honorários iniciais) e não depende do êxito ou da demora do INSS ou do Judiciário. É dinheiro rápido no caixa. Além disso, o Planejamento cria uma relação de confiança extrema. O cliente que faz o planejamento com você certamente fará o pedido de aposentadoria com você no futuro. É a melhor ferramenta de fidelização e de sustentabilidade financeira para o escritório que está começando.

Venda o Planejamento não como um custo, mas como um investimento. Mostre ao cliente que pagar pelo planejamento pode evitar que ele perca milhares de reais aceitando uma aposentadoria desvantajosa ou contribuindo desnecessariamente. É um argumento de venda fortíssimo e que traz liquidez para o seu negócio enquanto você constrói sua carteira de processos de longo prazo.

Gestão de Expectativas e Fluxo de Caixa

Gerir um escritório de advocacia previdenciária exige estômago financeiro. Você terá meses de “vacas gordas”, onde saem vários RPVs acumulados, e meses de seca. O erro do iniciante é gastar tudo no mês bom, achando que aquele faturamento será constante. Você precisa ter disciplina financeira rigorosa. Crie uma reserva de emergência para o escritório cobrir os custos fixos nos meses de baixa expedição de alvarás.

A gestão de expectativas do cliente também é vital. Nunca prometa resultado (“Causa ganha”), prometa empenho e técnica. O INSS é imprevisível e o Judiciário é lento. Se você diz ao cliente que “em 3 meses sai”, você criou uma bomba-relógio. Seja realista com os prazos. Explique as fases do processo. Um cliente bem informado aguarda com paciência; um cliente iludido te liga todo dia e fala mal de você na cidade.

Mantenha um fluxo de caixa organizado. Anote todas as despesas, por menores que sejam. Use o dinheiro dos serviços consultivos (planejamentos, contagens de tempo, pareceres) para pagar as contas do dia a dia, e use os honorários de êxito (os 30% dos atrasados) para reinvestir no escritório, fazer cursos de aprimoramento e construir seu patrimônio pessoal. Essa separação mental e contábil é o segredo da longevidade na advocacia.

Comparativo de Carreira Jurídica[3][4]

Para te ajudar a visualizar onde você está pisando, preparei um comparativo honesto entre iniciar no Previdenciário e em outras duas áreas clássicas de massa: Trabalhista e Cível (Consumidor).

CaracterísticaAdvocacia PrevidenciáriaAdvocacia TrabalhistaAdvocacia Cível (Consumidor)
Custo InicialBaixo. Exige computador, internet e software de cálculo. Escritório físico é dispensável no início.Médio. Muitas vezes exige estrutura para audiências e prepostos, embora o PJe tenha facilitado.Baixo. Similar ao previdenciário, mas exige alto volume para compensar os tickets baixos.
Velocidade de RetornoMédia/Rápida. A via administrativa pode conceder benefícios em 3 a 6 meses. O Planejamento gera caixa imediato.Média/Lenta. Depende de audiências e acordos. A fase de execução trabalhista costuma ser um gargalo demorado.Rápida (JEC). Ações de massa no Juizado Especial costumam ser rápidas, mas os valores de honorários são menores.
Complexidade TécnicaAlta. Exige domínio de legislação, cálculos matemáticos e processo administrativo específico.[2]Média. Exige muita prática de audiência e prova testemunhal. A legislação é vasta, mas menos volátil que a previdenciária.Baixa/Média. Matérias costumam ser repetitivas e padronizadas, exigindo menos personalização técnica.
Valor Social/GratificaçãoAltíssima. Você garante a subsistência e a dignidade de pessoas idosas ou doentes. O cliente é muito grato.Alta. Defesa de verbas alimentares, mas o conflito patrão-empregado gera muito desgaste emocional.Média. Resolve problemas pontuais (banco, telefonia), mas raramente muda a vida do cliente profundamente.
Dependência do JudiciárioParcial. É possível resolver e faturar muito apenas na via administrativa (INSS).Total. Depende quase 100% do ajuizamento de ações e da pauta de audiências da Justiça do Trabalho.Total. Depende do ajuizamento de ações, mesmo que no JEC.

Em resumo, meu caro, a Advocacia Previdenciária oferece um equilíbrio raro: a possibilidade de ganhos rápidos com o administrativo e consultivo, a segurança de grandes montantes no judicial a longo prazo e a satisfação de exercer uma função social indispensável. O caminho está traçado. As leis estão aí, os clientes estão em toda parte (basta olhar para o lado, todo mundo vai envelhecer). Agora, só falta você dar o primeiro passo. Estude, calcule e lute. Boa sorte nessa jornada!

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