Doutor e Doutora, vamos ter uma conversa franca aqui, de colega para colega. Você investiu tempo e dinheiro em uma pós-graduação lato sensu ou até mesmo em um mestrado acadêmico.[1] Você leu os clássicos, debateu teorias profundas sobre o constitucionalismo contemporâneo e citou doutrinadores alemães em seus trabalhos finais. Mas então, chega o dia em que o Recurso Especial do seu cliente precisa subir para o STJ ou aquele Recurso Extraordinário crucial bate à porta do STF. De repente, todo aquele arcabouço teórico parece não encontrar a fechadura da porta da admissibilidade., ao escolher um Curso Advocacia Estratégica nos Tribunais de 2º Grau e Superiores
A frustração é real e comum a muitos advogados brilhantes.[1] O mercado acadêmico nos vende a ideia de que o título de especialista é a chave mestra para o sucesso na advocacia de elite, mas a realidade dos corredores de Brasília é muito diferente. Nos Tribunais Superiores, o jogo não é jogado apenas com base em quem tem mais razão segundo a doutrina, mas sim em quem sabe navegar pelas águas turbulentas da técnica processual restritiva e da estratégia política dos gabinetes.
Neste artigo, não estou aqui para desmerecer sua titulação acadêmica, que tem seu valor inegável para a formação do pensamento crítico. Estou aqui para lhe mostrar por que, para o seu cliente que precisa reverter uma decisão injusta em Brasília, o seu conhecimento prático — aquele que não está nos livros de capa dura — vale muito mais do que o diploma na parede. Vamos entender onde a teoria falha e onde a prática de trincheira resolve.
O Diploma na Parede não Ganha Recurso[1]
Existe uma armadilha perigosa no excesso de academicismo quando se trata da advocacia de resultado. Muitas pós-graduações são desenhadas por acadêmicos para formar outros acadêmicos, e não necessariamente advogados de combate. Quando você passa dois anos discutindo a natureza jurídica de institutos abstratos, você acaba condicionando seu cérebro a escrever petições que parecem teses de doutorado. O problema é que o Ministro ou, mais realisticamente, o assessor que vai ler sua peça, não está interessado em uma aula de Direito; ele está procurando, desesperadamente, um motivo técnico para não conhecer do seu recurso e diminuir a pilha de processos do gabinete.
O abismo entre Kelsen, Dworkin e o Regimento Interno do STJ é onde a maioria dos recursos perece. Enquanto a pós-graduação ensina você a fundamentar o direito material com profundidade, ela raramente lhe mostra como superar a barreira técnica de admissibilidade que antecede qualquer discussão de mérito. Você pode ter o melhor argumento de direito civil do mundo, mas se não souber demonstrar a violação frontal à lei federal sem esbarrar no reexame de provas, seu recurso será barrado na entrada com uma decisão monocrática padrão de duas páginas. A academia foca no “o quê” (o direito), mas os Tribunais Superiores operam quase exclusivamente no “como” (o cabimento).
No final das contas, o seu cliente quer resultado, não uma tese jurídica inovadora que será emoldurada. Ele paga honorários para que o problema dele seja resolvido. Um curso prático focado em Tribunais Superiores inverte a lógica da pós-graduação: em vez de começar pela grande teoria, ele começa pelo problema. Ele ensina você a pensar como o julgador que quer se livrar do processo, permitindo que você blinde sua peça contra as defesas automáticas do sistema judiciário. É uma mudança de mindset brutal, saindo da vaidade intelectual para a eficiência processual cirúrgica.
A Muralha Invisível: Os Filtros Processuais do STJ e STF[1]
Se tivéssemos que eleger o maior inimigo do advogado nos Tribunais Superiores, não seria a parte contrária, mas sim a jurisprudência defensiva do próprio tribunal. A famigerada Súmula 7 do STJ, que veda o reexame de fatos e provas, é o exemplo clássico dessa muralha invisível. Na pós-graduação, você aprende a analisar a prova para construir a verdade dos fatos. No curso prático, você aprende que, se mencionar a palavra “depoimento” ou “testemunha” no seu Recurso Especial de forma errada, você acabou de confessar que quer reexaminar provas e seu recurso morrerá instantaneamente. A técnica aqui é saber reescrever os fatos como se fossem questões puramente de direito, uma habilidade que só o treino exaustivo e a orientação de quem já errou muito pode dar.
Outro ponto que a teoria ignora solenemente é a diferença entre o prequestionamento ficto e o real, e como cada Corte lida com isso. Você sabia que o STJ e o STF têm entendimentos divergentes sobre o momento em que a matéria se considera prequestionada? Uma pós-graduação genérica em Processo Civil vai lhe dizer o conceito de prequestionamento, mas um treinamento prático vai lhe mostrar como forçar o Tribunal de origem a se manifestar sobre o tema através de Embargos de Declaração com efeitos infringentes, e como redigir esses embargos para que não sejam considerados protelatórios, gerando multa. É um jogo de xadrez onde um movimento errado no Tribunal Estadual fecha as portas em Brasília meses depois.[1]
Além disso, temos a Repercussão Geral e os Recursos Repetitivos, que funcionam como filtros políticos e de gestão de massa. Entender a tese jurídica é fácil; difícil é saber como distinguir o caso do seu cliente (o famoso distinguishing) para que ele não caia na vala comum de um tema repetitivo que ficará sobrestado por anos. A prática nos ensina a encontrar a agulha no palheiro, o detalhe fático que torna o seu caso único e merecedor de uma análise individualizada. Essa sensibilidade para fugir da padronização é o que separa o advogado artesão do advogado de massa, e isso não se aprende em sala de aula teórica.
O Que o Curso Prático Ensina (e a Pós Esquece)[2]
A advocacia nos Tribunais Superiores acontece muito mais nos corredores e gabinetes do que no plenário.[1] A arte de despachar com assessores é, talvez, a habilidade mais subestimada e menos ensinada nas faculdades. Um curso prático de verdade vai lhe explicar que o Ministro dificilmente lerá sua petição inicial de capa a capa.[1] Quem fará a triagem é um assessor altamente qualificado, mas sobrecarregado. Você precisa aprender a falar a língua desse assessor, entregando a ele o “projeto de voto” pronto, facilitando o trabalho dele de dar razão a você. Chegar no gabinete sem hora marcada, saber quem abordar e ter um “memorial” de duas páginas (e não um livro) é o que vira o jogo.
Falando em escrita, a redação estratégica para Cortes Superiores é diametralmente oposta à redação acadêmica. Na pós-graduação, somos incentivados a ser exaustivos, a cobrir todas as bases. Na prática do STJ e STF, a concisão é rainha. Você precisa aprender a técnica de legal design e a estruturação de parágrafos que permitam uma leitura dinâmica.[1] O julgador precisa entender o cerne da controvérsia e a violação legal nos primeiros trinta segundos de leitura. Se ele precisar virar a página para entender o que você quer, você já perdeu pontos preciosos de atenção. Cursos práticos focam em “copys” jurídicas, ou seja, textos persuasivos focados na conversão (admissibilidade e provimento).
Não podemos esquecer o networking e a inteligência de tribunal.[1] Saber qual Ministro é mais garantista ou mais punitivista, entender as divergências internas entre a Quinta e a Sexta Turma do STJ, ou saber que determinada Turma do STF não costuma conceder Habeas Corpus em determinados crimes, é inteligência pura. Esse conhecimento circula em ambientes de prática, em grupos de mentoria e em cursos ministrados por quem vive o dia a dia da Corte. Na pós-graduação, a jurisprudência é estudada como algo estático; na prática, ela é um organismo vivo que pulsa conforme a composição política e momentânea das Turmas.
A Psicologia Não Escrita dos Ministros[1]
Há um fator humano que a doutrina ignora completamente: a psicologia de quem julga.[1] Cada Ministro tem suas idiossincrasias, seus traumas jurídicos e suas preferências políticas. Mapear o perfil da Turma Julgadora é essencial antes mesmo de protocolar o recurso. Por exemplo, existem Ministros que detestam argumentos baseados em princípios abertos e preferem o legalismo estrito; outros são adeptos de uma interpretação mais sociológica. Um curso prático de excelência vai lhe ensinar a fazer essa “análise de perfil”, adaptando a linguagem da sua peça ao ouvinte. Você não escreve a mesma petição para o Ministro X e para o Ministro Y, mesmo que o direito do seu cliente seja o mesmo.
O timing político do julgamento também é uma variável crucial.[1] Existem momentos em que a Corte está sob pressão da opinião pública ou do Congresso, e pautar um tema polêmico nesse momento pode ser suicídio processual. A prática nos ensina a ter essa leitura de cenário: às vezes é melhor pedir um adiamento ou trabalhar nos bastidores para que o processo não entre em pauta numa semana turbulenta. Essa sensibilidade, que beira a astúcia política, é o que protege o interesse do cliente de ser sacrificado no altar da opinião pública ou de uma crise institucional momentânea.
Outro ponto fascinante é a imprevisibilidade da jurisprudência, ou quando ela muda sem aviso prévio. A academia tende a ver a mudança jurisprudencial como uma evolução lenta e racional.[1] Na prática, vemos “cavalo de pau” jurídico acontecer da noite para o dia, muitas vezes motivado por uma mudança na composição da Turma ou por um caso específico que gerou comoção. O advogado prático precisa estar preparado para o “Plano B”.[1] Se a jurisprudência mudar no meio do caminho, como eu salvo meu processo? A resposta envolve técnicas de modulação de efeitos e argumentos de segurança jurídica que só quem está na batalha diária domina.
Sustentação Oral: Onde a Teoria Morre e o Advogado Nasce[1]
Chegamos ao momento culminante: a tribuna. A sustentação oral nos Tribunais Superiores é o palco onde a teoria morre e o advogado precisa nascer como orador e estrategista.[1] Não se trata de ler o relatório do processo; os Ministros já leram (ou os assessores resumiram).[1] Trata-se de usar os 15 minutos (ou menos, se o Presidente da Turma estiver impaciente) para plantar uma dúvida, destacar um fato crucial ignorado ou emocionar na medida certa. O nervosismo é natural, mas a técnica de gestão do tempo e de ênfase vocal é treinável. Cursos práticos simulam essas situações, colocam você sob pressão e corrigem vícios de linguagem que tiram sua credibilidade.
Um dos momentos mais aterrorizantes e decisivos é quando um Ministro interrompe sua fala para fazer uma pergunta. Nesse momento, o roteiro decorado vai para o lixo. A capacidade de responder “no olho no olho”, com segurança, sem gaguejar e sem fugir do tema, é o que muitas vezes define o voto de minerva. A pós-graduação não treina você para ser interrompido; ela treina você para o monólogo.[1] A prática treina para o debate.[1][2][3] Saber dizer “Excelência, pela ordem, a questão de fato é…” com a firmeza necessária, mas sem arrogância, é uma habilidade de ouro refinada apenas pela experiência simulada ou real.
Por fim, a postura, o tom de voz e a leitura do ambiente completam o pacote. Há dias em que a Turma está cansada, prestes a encerrar a sessão. Insistir em falar os 15 minutos regulamentares pode irritar os julgadores e jogar contra o seu cliente.[1] A sabedoria prática diz: “seja breve, seja cirúrgico, ganhe a simpatia pela objetividade”. Saber ler o ambiente, perceber que o Relator já está balançando a cabeça em concordância ou discordância e ajustar o discurso em tempo real é uma competência de alta performance. É aqui que o advogado deixa de ser um repetidor de leis e se torna um verdadeiro tribuno.
Quadro Comparativo: Onde Investir Seu Tempo e Dinheiro?
Para facilitar sua visualização, preparei um comparativo direto entre o que estamos discutindo. Veja onde cada tipo de formação se encaixa na sua carreira.
| Critério | Curso Prático em Tribunais Superiores | Pós-Graduação Lato Sensu (Genérica) | Manual de Prática / Cursinho OAB |
| Foco Principal | Estratégia, admissibilidade e “como fazer”.[1] | Teoria, doutrina e “o que é”.[3][4][5] | Regras básicas e procedimentais gerais.[1][4][6] |
| Abordagem da Súmula 7 | Ensina como contornar e redigir os fatos para não incidir nela. | Explica a história e o conceito da súmula. | Cita que a súmula existe e impede recursos. |
| Redação de Peças | Focada em legal design, memoriais e síntese para assessores. | Focada em fundamentação exaustiva e acadêmica. | Modelos prontos e padronizados (perigosos).[1] |
| Visão dos Ministros | Análise de perfil, psicologia e política interna. | Análise de votos passados como jurisprudência estática.[1] | Não aborda o perfil dos julgadores. |
| Retorno Imediato | Alto: aplicável no próximo recurso que você protocolar.[1] | Médio/Longo: constrói autoridade acadêmica com o tempo.[1] | Baixo: serve apenas para casos muito simples.[1] |
| Sustentação Oral | Treinamento de oratória, postura e gestão de interrupções. | Raramente abordada (foco na escrita). | Dicas genéricas de “fale bem”. |
Você percebe a diferença? Não estou dizendo para você rasgar seu diploma de pós-graduação. Ele é vital para sua base teórica.[1] Mas não confunda profundidade teórica com competência prática nos Tribunais Superiores. Se você quer ver seu nome no Diário da Justiça com a palavra “PROVIDO” ao lado, você precisa dominar as regras não escritas do jogo. E isso, meu caro colega, só a prática direcionada ensina.
Invista em saber como a máquina funciona por dentro.[1] Seu cliente agradecerá, e sua taxa de êxito nos recursos subirá drasticamente. Vamos juntos nessa jornada de aprimoramento real.
